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O endividamento relacionado a tristeza e estresse na vida pessoal

O endividamento como causa de tristeza e estresse que afetam a vida pessoal e os negócios, e a importância do equilíbrio da saúde financeira.

É o que vamos abordar neste artigo, reproduzindo na íntegra entrevista com o Psicoterapeuta, Mestre em Administração, Coach e Professor José Renato Salles. 

Qual a relação entre a ansiedade e a depressão, quais os principais sintomas e como elas começam e evoluem?

Antes de falarmos de ansiedade e depressão como transtornos psiquiátricos, é preciso lembrar o leitor de que a ansiedade e a tristeza (essa última mais associada à depressão) são emoções com funções essenciais para a nossa adaptação e bem-estar nas situações mais diversas da vida.

O estresse é uma resposta de nosso organismo a uma situação interpretada como de ameaça, e a ansiedade é a reação do organismo ao estresse, com o objetivo de nos preparar para enfrentar a ameaça percebida. A ameaça surge geralmente em situações de incerteza sobre nosso futuro, dúvidas sobre nossa capacidade de dar conta da ameaça futura ou iminente. Portanto, todos os sintomas típicos de um episódio de ansiedade (aperto no peito, taquicardia, sudorese, boca seca, dentre outros) são como que avisos de nosso organismo para que a gente planeje e execute ações que diminuam as incertezas e nos tragam mais controle sobre a situação. Essa ansiedade se torna um transtorno quando é tão intensa que, ao invés de nos colocar em ação, nos paralisa, podendo nos levar ao pânico e à fuga dos problemas da vida.

A tristeza, por sua vez, é a emoção que nos informa sobre alguma perda significativa que experimentamos, é a constatação de que algo de valor que tínhamos ou desejávamos alcançar não está mais ao nosso alcance. A tristeza, portanto, nos ensina muito sobre nossa escala de valores, nos pede que reflitamos sobre a real importância daquilo que perdemos, nos sugere que aprendamos sobre os fatores que nos levaram à perda e nos encoraja a promover mudanças em nossas atitudes de modo a evitarmos novas perdas, alimentando nossa esperança.

A tristeza só se transforma em patologia quando é tão intensa que nos impede de raciocinar e nos joga na desesperança. São alguns os transtornos depressivos reconhecidos pela psiquiatria, mas o mais clássico é o Transtorno Depressivo Maior, cuja principal característica é a perda de interesse ou prazer em quase todas as atividades da vida.

Quanto à relação entre ansiedade patológica e depressão, pessoas com ansiedade crônica, mais incapacitante, podem desenvolver quadros depressivos por conta da frustração de não conseguir ser bem-sucedidas nos desafios cotidianos, justamente por causa das limitações que o transtorno de ansiedade provoca.

Quais são, atualmente, os principais potenciais estressores para as pessoas?

São muitas as fontes de estresse em nossas vidas, mas nos limitando aqui ao mundo do trabalho, hoje o aumento da velocidade das mudanças (especialmente as tecnológicas) e da complexidade das mudanças, somados à pressão por resultados elevam muito o grau de incertezas e da percepção de perda de controle sobre as situações.

De que forma o stress se manifesta e o que ele pode acarretar?

Como mencionado anteriormente, o estresse é uma resposta de nosso organismo a uma situação interpretada como de ameaça, e os sintomas típicos são fisiológicos (aperto no peito, taquicardia, sudorese, tensão muscular, boca seca) e emocionais (apatia, raiva, irritabilidade, ansiedade), e pode contribuir para a etiologia de patologias mais graves dos chamados órgãos alvo do estresse (sistemas cardiovasculares, gastrintestinais, da pele, imunológico, entre outros).

De que forma esses fatores interferem na vida financeira das pessoas e quais suas consequências para a vida pessoal e para os negócios?

Em minha experiência clínica em processos psicoterapêuticos observo que, ao invés de lidarem de forma racional com as situações de incertezas, planejando e executando ações que diminuam tais incertezas de forma consistente no médio e no longo prazo, muitas pessoas tentam aplacar os sintomas de ansiedade com consumo demasiado de bens e serviços, assumindo muitas vezes dívidas de longo prazo e negligenciando a tão necessária formação de poupança.

O consumo pode até trazer uma sensação de prazer e gratificação imediatos, aliviando vários dos sintomas da ansiedade no curto prazo, mas depois, no médio e no longo prazo, a ansiedade só aumenta ao se perceber sem reserva financeira para dar conta dos compromissos assumidos. Com dívidas e sem poupança, a sensação é de privação de liberdade econômica, de dependência total do emprego, de se ver tendo que “vender o almoço para pagar o jantar”. É previsível que nessa situação a ansiedade só aumente, levando ao risco de desenvolvimento de transtornos de ansiedade ou de depressão.

Assim como a capacidade de geração de caixa traz para as organizações a possibilidade de, não apenas distribuir lucros, mas principalmente a de investimento em ativos que gerem mais caixa ainda e, por conseguinte, a perenidade do negócio, também para as pessoas físicas a formação de poupança traz possibilidades de investimento na própria capacitação profissional e bem-estar. Portanto, aprender a tolerar as frustrações típicas da privação do consumo imediato e aprender a postergar o prazer, tende a trazer muito mais satisfação pessoal no médio e longo prazo.

No caso dos empresários, CEOs e empreendedores, de que maneira a ansiedade e a depressão podem afetar o resultado de uma empresa?

A ansiedade excessiva no gestor pode induzi-lo a decisões mais impulsivas e a deixar suas equipes “pilhadas”, estressadas com excesso de pressão por resultados, sem a devida e racional coordenação das ações de todos. O gestor ansioso, tende também a não escolher o que não vai fazer, passando uma mensagem clara de que tudo é importante e urgente. Como, entretanto, os recursos são sempre escassos, o efeito nas equipes é o de sensação de falta de controle, originando um círculo vicioso de pressão por resultados inatingíveis e de não entregas que gera mais ansiedade e, depois, desesperança e apatia pela impotência.

No caso de gestor com depressão, o efeito mais comum é o do afastamento voluntário do cargo, por perda total do interesse pela função.

Qual a importância que o senhor vê no equilíbrio entre a PF e PJ, para o sucesso pessoal e empresarial?

Não vejo uma cisão entre a pessoa e o empresário. Podemos dizer que o João é pai, esposo, colega, amigo, filho e empresário, mas em todos esses papéis sociais que ele exerce é sempre o João, e em todos eles o João exerce sua influência. Por exemplo, a cultura da organização fundada e/ou gerida pelo João herdará dele muitos de seus valores e crenças pessoais.

E se o João não estiver satisfeito em seu papel de cônjuge, por exemplo, tenderá a levar, ainda que de modo indireto, essa insatisfação para seu papel de empresário. É o que conhecemos por contaminação de papéis sociais. Portanto, entendo ser de suma importância a busca pelo equilíbrio e satisfação em todos os papéis sociais que consideramos importantes, pois o desequilíbrio em apenas um deles pode travar em alguma medida a roda da vida.

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